Adicto (uma confissão)
terça-feira, julho 24, 2007
Tenho uma revelação a fazer. Possuo uma capacidade invulgar de me abstrair do trabalho durante o período de férias. Tornei-me de tal forma um perito nesta especialidade que por vezes sou obrigado a fazer um esforço extra (chegando mesmo a interromper as férias de meio milhão de neurónios) de modo a conseguir lembrar-me da minha ocupação durante o resto do ano.
Infelizmente este fenómeno só se dá durante as primeiras 24 horas, deitando assim por terra as hipóteses de me tornar protagonista de um documentário no National Geographic Channel.
Ao final do 1º dia noto que algo de estranho se passa no meu corpo. Não é a falta de gel no cabelo. Não é o bronzeado à trolha que ostento em ambos os braços. Não é a unha por cortar do dedo grande do pé direito, esquecida devido a um inconveniente telefonema em vésperas de abalar. São as mãos, Senhor, são as mãos! Sinto falta das mãos negras cobertas de tinta de jornal, misturadas com o seu odor (o dos jornais, não o seu, caro leitor) e que apenas é disfarçado com a passagem de um guardanapo húmido. Instintivamente, roubo um toalhete ao kit higiénico da minha filha, perante o seu curioso olhar, e esfrego-o nas mãos. Sinto na pele (das mãos) o ridículo da situação e abandono rapidamente a ideia, juntamente com o toalhete. Pego na trouxa e resolvo ir ressacar para a praia.
Passam agora 48 horas sem jornais. Sinto um ligeiro tremor nas mãos e passa-me pela cabeça brincar aos trocos com a minha sobrinha. Pode ser que o cheiro das moedas aligeire a minha abstinência de jornais. Azar. Não tenho trocos na carteira. Não aguento mais. Invento uma desculpa esfarrapada e troco a sesta por uma corrida à recepção do resort ( para quem vai de férias, fica bem dizer resort em vez de hotel), onde espalho o perfume do meu espanhol: “Un kiosko por favor, um kiosko! Presupuesto, onde puedo comprar periodicos, por favor?”. A senhora aponta um largo corredor, que eu não tinha ainda explorado, e assinala: “20 metros, señor”. Qual oásis, esteve sempre ali ao lado a fonte do meu vício. Corri que nem um camelo, disposto a comprar a Marca, o El Pais ou o ABC. Qualquer periodico servia para matar o bicho. Presupuesto. E eis que, para grande surpresa, a banca oferece-me tudo o que era jornal tuga! Foi como se percorresse para trás 500km num só segundo. De repente, estava de novo em casa. Toquei ao de leve na Bola, contei quantos Publicos ainda havia, verifiquei a correcta colocação dos suplementos do Correio do Manhã e comi a capa do 24 Horas. E voltei ao quarto, de ombros caídos, passo lento e olhar fixo no mármore que revestia o corredor, de mãos a abanar.
Eu, adicto, tenho dito.
Infelizmente este fenómeno só se dá durante as primeiras 24 horas, deitando assim por terra as hipóteses de me tornar protagonista de um documentário no National Geographic Channel.
Ao final do 1º dia noto que algo de estranho se passa no meu corpo. Não é a falta de gel no cabelo. Não é o bronzeado à trolha que ostento em ambos os braços. Não é a unha por cortar do dedo grande do pé direito, esquecida devido a um inconveniente telefonema em vésperas de abalar. São as mãos, Senhor, são as mãos! Sinto falta das mãos negras cobertas de tinta de jornal, misturadas com o seu odor (o dos jornais, não o seu, caro leitor) e que apenas é disfarçado com a passagem de um guardanapo húmido. Instintivamente, roubo um toalhete ao kit higiénico da minha filha, perante o seu curioso olhar, e esfrego-o nas mãos. Sinto na pele (das mãos) o ridículo da situação e abandono rapidamente a ideia, juntamente com o toalhete. Pego na trouxa e resolvo ir ressacar para a praia.
Passam agora 48 horas sem jornais. Sinto um ligeiro tremor nas mãos e passa-me pela cabeça brincar aos trocos com a minha sobrinha. Pode ser que o cheiro das moedas aligeire a minha abstinência de jornais. Azar. Não tenho trocos na carteira. Não aguento mais. Invento uma desculpa esfarrapada e troco a sesta por uma corrida à recepção do resort ( para quem vai de férias, fica bem dizer resort em vez de hotel), onde espalho o perfume do meu espanhol: “Un kiosko por favor, um kiosko! Presupuesto, onde puedo comprar periodicos, por favor?”. A senhora aponta um largo corredor, que eu não tinha ainda explorado, e assinala: “20 metros, señor”. Qual oásis, esteve sempre ali ao lado a fonte do meu vício. Corri que nem um camelo, disposto a comprar a Marca, o El Pais ou o ABC. Qualquer periodico servia para matar o bicho. Presupuesto. E eis que, para grande surpresa, a banca oferece-me tudo o que era jornal tuga! Foi como se percorresse para trás 500km num só segundo. De repente, estava de novo em casa. Toquei ao de leve na Bola, contei quantos Publicos ainda havia, verifiquei a correcta colocação dos suplementos do Correio do Manhã e comi a capa do 24 Horas. E voltei ao quarto, de ombros caídos, passo lento e olhar fixo no mármore que revestia o corredor, de mãos a abanar.
Eu, adicto, tenho dito.
6 Comments:
commented by Zé Bonito, 7/25/2007 8:26 da manhã
:) Tive mesmo que sorrir...
Bom regresso.
Bom regresso.
commented by 7/25/2007 9:53 da tarde
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Com a tua mulher gr�vida sentiste foi falta da Gina, confessa l� :)
commented by 7/25/2007 11:14 da tarde
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Kagrandabruto!
;)
commented by 7/27/2007 1:44 da tarde
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Caro ardinario,
presupuesto=orçamento.
presupuesto=orçamento.
commented by 8/16/2007 1:34 da manhã
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Que tenhas umas boas ditas.