Isto só vai lá ao tiro!
quinta-feira, julho 24, 2008
O senhor A merecia um post só para si, mas o senhor A esteve envolvido num dos episódios mais caricatos que presenciei no quiosque. Além do senhor A, participaram neste episódio o senhor B e o senhor C, por esta ordem. Eu também entrei. Aliás, eu já lá estava desde as 8 da manhã.
A espectacularidade deste episódio está na forma como ele representa a visão que muitas pessoas têm deste país, o que só vem colocar uma pressão adicional sobre os meus dedos, pois tenho sérias dúvidas que consiga transformar em palavras aquilo que presenciei.
Deixem-me apresentar-vos o senhor A, mas não de forma exaustiva, que o senhor A é menino para me espetar duas galhetas no focinho se sonha que eu ando aqui a falar dele.
Embora a frase anterior represente bem o espírito do senhor A, tenho a acrescentar que o senhor A tem muita pinta na forma como escavaca por palavras (lê-se asneiredo do piorio) qualquer gaja que se apresente na capa de uma revista social, qualquer político que abra a boca para debitar meia dúzia de palavras ou qualquer cliente que se lhe atreva a lançar um olhar reprovador depois de escavacar fulano e fulana tal.
O senhor A usa dois tipos de abordagem à minha banca. 1. pega no jornal e vai embora. 2. pega no jornal, acende um cigarro e acomoda-se na ponta esquerda da secção de culinária, pronto a escavacar quem lhe vier à mona. São os preparativos da abordagem 2 que me deixam nervoso, e não propriamente o que se lhe segue. Por vezes é arrasador, mas rápido. Outras vezes, começa meiguinho, mas entusiasma-se e quase que transforma a coisa num speaker’s corner à portuguesa.
E foi assim que começou o episódio. Primeiro, umas bocas às mamas da Nereida. Depois, umas ameaças ao ministro das obras publicas. E o espasmo final, numa crítica ao país, que culminou com um “isto só vai lá ao tiro!”, repetido várias vezes, até à chegada do senhor B.
Garanto que o senhor B não conhece o senhor A de lado nenhum. Simplesmente aproximou-se do senhor A e disse, muito calmamente, como é seu timbre: “tem toda a razão, isto só vai lá ao tiro”. Chega o senhor C, que talvez conheça o senhor B, mas que garanto que não conhece o senhor A de lado nenhum. E exclama, num tom de voz que nunca lhe tinha ouvido: “Esta merda toda só se resolve ao tiro!”.
É notório agora que existe no ar um ambiente de cumplicidade entre os três senhores que se juntaram para comprar o jornal, embora nenhum deles saiba precisamente como se formou a discussão do tiro, nem a quem se dirige propriamente o tiro. Filha da putice e cambada de aldrabões e corruptos passa a fazer também do vocabulário, ao mesmo tempo que o senhor A dá cabeçadas na atmosfera, à Jardel, de cima para baixo como mandam as regras.
Até que subitamente, sem acordo prévio, com o desabafo na reserva, param para respirar e os seus olhares, apenas os seus olhares, pedem a minha conivência.
Não os podia defraudar, era uma oportunidade de ouro de satisfazer 3 clientes de uma só vez: “Aqueles cabrões da ***** devem-me rios de dinheiro, mas se lhes falho com o pagamento anual, a partir do dia seguinte obrigam-me a pagar mais metade da dívida!”.
“Tá a ver, tá a ver… isto… isto… isto só se resolve ao tiro!”, atira o senhor B (ou terá sido o senhor C... agora estou confuso).
Num fôlego final, os ânimos exaltam-se pela última vez e tive a certeza que se em vez de jornais, vendesse armas de fogo, tinha feito aqui um belo de um negócio.
A espectacularidade deste episódio está na forma como ele representa a visão que muitas pessoas têm deste país, o que só vem colocar uma pressão adicional sobre os meus dedos, pois tenho sérias dúvidas que consiga transformar em palavras aquilo que presenciei.
Deixem-me apresentar-vos o senhor A, mas não de forma exaustiva, que o senhor A é menino para me espetar duas galhetas no focinho se sonha que eu ando aqui a falar dele.
Embora a frase anterior represente bem o espírito do senhor A, tenho a acrescentar que o senhor A tem muita pinta na forma como escavaca por palavras (lê-se asneiredo do piorio) qualquer gaja que se apresente na capa de uma revista social, qualquer político que abra a boca para debitar meia dúzia de palavras ou qualquer cliente que se lhe atreva a lançar um olhar reprovador depois de escavacar fulano e fulana tal.
O senhor A usa dois tipos de abordagem à minha banca. 1. pega no jornal e vai embora. 2. pega no jornal, acende um cigarro e acomoda-se na ponta esquerda da secção de culinária, pronto a escavacar quem lhe vier à mona. São os preparativos da abordagem 2 que me deixam nervoso, e não propriamente o que se lhe segue. Por vezes é arrasador, mas rápido. Outras vezes, começa meiguinho, mas entusiasma-se e quase que transforma a coisa num speaker’s corner à portuguesa.
E foi assim que começou o episódio. Primeiro, umas bocas às mamas da Nereida. Depois, umas ameaças ao ministro das obras publicas. E o espasmo final, numa crítica ao país, que culminou com um “isto só vai lá ao tiro!”, repetido várias vezes, até à chegada do senhor B.
Garanto que o senhor B não conhece o senhor A de lado nenhum. Simplesmente aproximou-se do senhor A e disse, muito calmamente, como é seu timbre: “tem toda a razão, isto só vai lá ao tiro”. Chega o senhor C, que talvez conheça o senhor B, mas que garanto que não conhece o senhor A de lado nenhum. E exclama, num tom de voz que nunca lhe tinha ouvido: “Esta merda toda só se resolve ao tiro!”.
É notório agora que existe no ar um ambiente de cumplicidade entre os três senhores que se juntaram para comprar o jornal, embora nenhum deles saiba precisamente como se formou a discussão do tiro, nem a quem se dirige propriamente o tiro. Filha da putice e cambada de aldrabões e corruptos passa a fazer também do vocabulário, ao mesmo tempo que o senhor A dá cabeçadas na atmosfera, à Jardel, de cima para baixo como mandam as regras.
Até que subitamente, sem acordo prévio, com o desabafo na reserva, param para respirar e os seus olhares, apenas os seus olhares, pedem a minha conivência.
Não os podia defraudar, era uma oportunidade de ouro de satisfazer 3 clientes de uma só vez: “Aqueles cabrões da ***** devem-me rios de dinheiro, mas se lhes falho com o pagamento anual, a partir do dia seguinte obrigam-me a pagar mais metade da dívida!”.
“Tá a ver, tá a ver… isto… isto… isto só se resolve ao tiro!”, atira o senhor B (ou terá sido o senhor C... agora estou confuso).
Num fôlego final, os ânimos exaltam-se pela última vez e tive a certeza que se em vez de jornais, vendesse armas de fogo, tinha feito aqui um belo de um negócio.
1 Comments:
Muito bom! Muito, muito bom!
commented by Anónimo, 7/25/2008 1:28 da tarde